segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A chegada do Adventismo ao Brasil


Há 110 anos era organizada a primeira igreja adventista no Brasil.

Corria o ano de 1884. Um jovem alemão conhecido como Borchardt, residente em Brusque, Santa Catarina, envolve-se em uma briga, ferindo gravemente seu oponente. Com medo da polícia, resolve fugir em direção ao Porto de Itajaí. Lá chegando, embarca clandestinamente em um navio que rumava para a Alemanha. Numa das escalas, acaba conhecendo dois missionários adventistas que lhe perguntam se conhece algum protestante no Brasil. Meio desconfiado, Borchardt responde que seu padrasto, Carlos Dreefke, é luterano. Os missionários pedem-lhe o endereço de Dreefke, deixando claro que o único interesse deles é enviar literatura religiosa para o Brasil.

Alguns meses depois, um pacote contendo revistas adventistas em alemão chega à Colônia de Brusque, endereçado a Carlos Dreefke e com selo de Battle Creek, Estados Unidos. A encomenda é aberta na casa comercial de Davi Hort, um típico casarão colonial de dois pavimentos, distante oito quilômetros do atual centro de Brusque. Dreefke, ainda meio desconfiado, toma para si uma das revistas, com inscrição de capa A Voz da Verdade, e distribui as outras nove para seus amigos que ali estavam.

Com o tempo, algumas famílias demonstraram interesse por aquelas publicações que falavam, dentre outras coisas, na segunda vinda de Cristo, num estilo de vida mais saudável e na importância de se reservar o sábado para atividades de cunho religioso. Continuaram a pedir mais literatura, usando o nome do Sr. Dreefke que, com medo de que algum dia lhe mandassem a conta de todas as revistas, acabou cancelando os pedidos futuros.

A frustração foi geral. Quem poderia assumir agora a responsabilidade pelas revistas? Um polonês de nome Chikiwidowski chegou a se responsabilizar pelos pedidos, mas seu entusiasmo durou pouco. Foi então que uma terceira pessoa entrou na história: Frederich Dressler.

Dressler era filho de um pastor luterano, na Alemanha. Foi expulso de seu país por ser alcoólatra. Aproveitando as correntes migratórias para o Brasil, veio parar em Brusque. Trabalhou como professor, mas toda a sua renda era gasta em bebida. Quando Dressler ouviu falar das tais revistas adventistas que eram enviadas de graça, resolveu fazer um pedido, com a intenção de vendê-las para alimentar o vício que o destruía.

As revistas (como a Hausfreund , “Amigos do Lar”) chegaram e, com elas, alguns livros. Entre eles, um muito especial: o Comentário Sobre o Livro de Daniel , de Uriah Smith. Após a leitura desse livro, Guilherme Belz se tornaria – anos mais tarde – o primeiro no Brasil a reconhecer o sábado como dia de descanso, através da literatura adventista.

Em certas ocasiões, enquanto Dressler caminhava pelas ruas em busca de compradores, os folhetos caíam-lhe das mãos trêmulas. Como não havia muito papel espalhado pelo chão naquela época, as pessoas, curiosas, apanhavam os folhetos e os liam. Sem saber, Dressler prestou grande contribuição à causa adventista que ensaiava seus primeiros passos em terras brasileiras.

A Sociedade Internacional de Tratados dos Estados Unidos enviou centenas de dólares em literatura, que Dressler transformou em cachaça. Na venda de Davi Hort, Dressler trocava as revistas e folhetos por bebida. O Sr. Davi as usava como papel de embrulho. E foi dessa forma que a mensagem adventista conseguiu se espalhar mais e mais, como folhas de outono, alcançando famílias e corações nos quais a semente do evangelho começava a germinar.

O primeiro converso no Brasil

Guilherme Belz nasceu na Pomerânia, Alemanha, em 1835. Veio para o Brasil e estabeleceu-se na região de Braunchweig (hoje Gaspar Alto), a cerca de 18 quilômetros de Brusque. Certa ocasião, ao voltar das compras na Vila de Brusque, notou algo de especial em uma das mercadorias. O papel de embrulho trazia um texto escrito em alemão. A leitura do impresso deixou Belz pensativo por várias semanas, até que, ao visitar o irmão Carl, descobriu que este havia comprado um livro do alcoólatra Frederich Dressler – livro que “coincidentemente” tratava, dentre outras coisas, do mesmo assunto do folheto.

O Comentário Sobre o Livro de Daniel, de Uriah Smith, também estava escrito em alemão. Ao tentar pegá-lo da estante, Guilherme derrubou-o no chão. O livro se abriu justamente no capítulo intitulado “O Papado Muda o Dia de Repouso”. Este título fez Belz recordar sua juventude na Alemanha.

Nascido em uma família luterana, Guilherme tinha por hábito ler a Bíblia, mas algo o intrigava: “Se apenas o sábado é mencionado nas Escrituras, por que guardamos o domingo?” Sua mãe Luise e o pastor de sua igreja desconversavam e, por isso, a resposta teve de aguardar muitos anos.

Como estava com pressa, Guilherme despediu-se de Carl levando emprestado o livro – segurando-o como se houvesse descoberto um tesouro precioso. Chegando em casa, ele investigou o assunto do sábado mais a fundo, comparando o conteúdo do livro com a sua Bíblia. Finalmente, Belz convenceu-se da santidade do sábado. Guilherme tinha então 54 anos e tornava-se, assim, o primeiro a reconhecer, no Brasil, o sábado como dia do Senhor, graças à literatura adventista. Os Belz não demoraram a espalhar sua nova crença pela região. Pouco tempo depois, algumas famílias já se reuniam para estudar a Bíblia e orar.

Em maio de 1893, por designação da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o missionário Albert B. Stauffer chegou ao Brasil. Juntamente com outros missionários, Stauffer espalhou a literatura adventista em Indaiatuba, Rio Claro, Piracicaba e outras localidades. Assim, os primeiros interessados na mensagem adventista, em São Paulo, foram surgindo. O mesmo aconteceu no Estado do Espírito Santo, onde Stauffer espalhou vários livros O Grande Conflito.

Os adventistas que, em São Paulo e no Espírito Santo, observavam o sábado e criam na volta de Jesus estavam totalmente alheios à existência dos irmãos de Santa Catarina que, já há alguns anos, professavam a mesma fé.

Em agosto de 1894, chegou ao Brasil outro missionário adventista: William Henry Thurston. Acompanhado da esposa Florence, Thurston veio dos Estados Unidos com a missão de estabelecer um entreposto de livros denominacionais no Rio de Janeiro, para atender aos missionários no Brasil. Com ele vieram duas grandes caixas de livros e revistas impressos em inglês, alemão e pouca coisa em espanhol. Na época, não havia nada publicado em português, pois a Casa Publicadora Brasileira só iniciaria suas atividades a partir de 1900.

Para chegar ao seu destino, muitos impressos eram despachados nos navios oceânicos, outros nos barcos fluviais a vapor (ou mesmo a remo), outros ainda em carros de boi, em lombo de burro e, às vezes, em alguns lugares, nas costas dos missionários.

O primeiro pastor adventista a visitar o Brasil
O mesmo navio – Magdalena – que trouxe o casal Thurston ao Brasil levou o Pastor Frank Henry Westphal para a Argentina. Eram poucos os primeiros representantes da Igreja Adventista no continente sul-americano, na época. No final de 1894, num território de 15.500.000 quilômetros quadrados, somente dez homens se dedicavam à proclamação da fé adventista, oralmente ou por escrito. Um deles era o Pastor Westphal, os outros eram os colportores-missionários. Mas, em apenas cinco anos, os vinte já eram duzentos!

Neste mesmo ano – 1894 – o missionário Albert Bachmeyer chegou ao Estado de Santa Catarina. Grande foi sua alegria quando, ao oferecer seus livros a uma família em Brusque, descobriu que havia adventistas ali. Imediatamente, transmitiu a boa notícia a Thurston que, por sua vez, escreveu informando o Pastor Westphal, na Argentina.

Westphal foi o primeiro ministro adventista enviado para servir na América do Sul. Ordenado ao ministério em 1883, em Michigan, dedicou-se à missão urbana de Milwaukee e lecionou História no Departamento Alemão do Union College. Em 1894 foi chamado para servir no continente sul-americano.

Em fevereiro de 1895, o Pastor Westphal desembarcou no Rio de Janeiro, onde o esperavam o casal Thurston e o colportor A. B. Stauffer. Acompanhado por Stauffer, o Pastor Westphal seguiu primeiro para o interior de São Paulo, para batizar os primeiros conversos naquele Estado. Guilherme Stein Jr. foi o primeiro adventista brasileiro a ser batizado, numa manhã de abril do ano de 1895. Seu batismo foi realizado no rio Piracicaba, que na língua indígena significa colheita de peixes. Stein Jr. desempenhou papel importante na Obra Adventista do Brasil como missionário, evangelista, professor, administrador, redator e editor.

No dia 30 de maio de 1895, o Pr. Westphal chega em Brusque, e lá encontra os primeiros grupos de conversos ao adventismo, no Brasil. Emocionados, os novos conversos ouviram pela primeira vez a pregação de um ministro adventista. Em oito de junho de 1895, foi realizado o primeiro batismo de oito pessoas no rio Itajaí-Mirim, uns cinco ou seis quilômetros acima da Vila de Brusque. Três dias depois, o Pastor Westphal realizou o segundo batismo, em Gaspar Alto. Naquele dia, mais 14 pessoas foram batizadas. Com esse grupo de conversos catarinenses foi organizada a primeira congregação adventista do sétimo dia no Brasil, tendo como primeiro-ancião Augusto Olm e diácono, Guilherme Belz (no ano seguinte, 1896, foi construído o primeiro templo em Gaspar Alto).

Em 14 de dezembro de 1895, foi realizado o primeiro batismo adventista no Estado do Espírito Santo. Na ocasião, 23 pessoas foram batizadas, tornando-se membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Poucos anos depois, grupos de conversos adventistas já realizavam a Escola Sabatina em Campos dos Quevedos e Taquari (RS), Brusque e Joinville (SC), Curitiba (PR), Rio Claro e Indaiatuba (SP), Santa Maria (ES) e Teófilo Otoni (MG). O árduo trabalho dos missionários pioneiros prosperava, e mais e mais pessoas eram salvas para o Reino de Deus. Daquele humilde início, com algumas dezenas de conversos espalhados aqui e ali, hoje a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode louvar a Deus pelo seu rápido crescimento. Dos dez milhões de membros que a igreja tem no planeta, mais de um milhão estão no Brasil, o que o torna o país com a maior presença adventista no mundo.

Nossa missão hoje não é menos importante que a iniciada pelos pioneiros, com esforço e muita dedicação. Eles prepararam o caminho e espalharam a preciosa semente da verdade. Cabe a nós terminar a colheita para que Cristo volte logo e encerre nossa peregrinação. Maranata!


Desenvolvimento cronológico resumido da
Obra Adventista no Brasil



1884 — O pacote contendo dez revistas Arauto da Verdade , em alemão, chega a Brusque, SC.

1890 — Surgem os primeiros observadores do sábado em Gaspar Alto, SC. Guilherme Belz é o pioneiro.

1893 — Albert B. Stauffer, primeiro missionário enviado ao Brasil pela Associação Geral, chega ao País.

1894 — (1) Albert Bachmeier encontra observadores do sábado em Brusque e em Gaspar Alto; (2) W. H. Thurston chega ao Rio de janeiro com dois caixotes de livros, estabelecendo naquela cidade um depósito de livros.

1895 — (1) Pastor Frank H. Westphal chega ao Rio de janeiro em fevereiro. Acompanhado por Albert Stauffer, inicia uma viagem realizando batismos em São Paulo e terminando com a cerimônia batismal de Gaspar Alto, em junho; (2) No mesmo mês, a primeira igreja adventista do Brasil é organizada em Gaspar Alto; (3) No mês de julho, os irmãos Berger chegam ao Brasil para colportar; (4) Pastor H. F. Graf chega ao Brasil em agosto e, em dezembro, realiza o batismo em Santa Maria do Jetibá, no Espírito Santo; (5) É criada a Missão Brasileira da IASD.

1896 — (1) Pastor Spies chega ao Brasil e batiza 19 pessoas em Teófilo Otoni, Minas Gerais; (2) Em julho começa a funcionar o Colégio Internacional de Curitiba, PR, a primeira escola particular adventista.

1900 — (1) Além da escola paroquial já existente em Gaspar Alto, começa a funcionar a escola missionária, sob a direção do Pastor John Lipke; (2) Começa a ser publicada a revista O Arauto da Verdade , em português, mas ainda em tipografia secular. Guilherme Stein foi seu primeiro editor.

1903 — Em agosto, o Colégio Superior de Gaspar Alto é transferido para Taquari, RS. A escola paroquial da igreja de Gaspar Alto, entretanto, continuou funcionando.

1904 — (1) O Pastor Ernesto Schwantes visita o comerciante José Lourenço Mendes, em Santo Antônio da Patrulha, RS. Surgem as igrejas de Campestre e Rolante e inicia-se a transição do adventismo das colônias alemãs para todo o Brasil; (2) Pastor Lipke consegue, nos EUA, a doação de um prelo para o Brasil.

1905 — O prelo é montado no colégio de Taquari, RS. A Sociedade Internacional de Tratados no Brasil (embrião da Casa Publicadora Brasileira) inicia suas atividades gráficas.

1907 — A Casa Publicadora Brasileira (então conhecida como Tipografia Adventista de Taquari) é transferida de Taquari para São Bernardo do Campo, São Paulo.

1911 — (1) José Amador dos Reis, da igreja de Rolante, ingressa na colportagem, passando depois à obra bíblica, na qual foi ordenado ao ministério, tornando-se o primeiro pastor adventista brasileiro ordenado (em 1920); (2) É organizada a União Brasileira, com sete campos, 68 igrejas e 1.550 membros.


Michelson Borges é redator da Casa Publicadora Brasileira e autor dos livros A Chegada do Adventismo ao Brasil (Casa) , A História da Vida, Por Que Creio e Nos Bastidores da Mídia
(seu blog: www.michelsonborges.blogspot.com)



Fonte: http://www.mpv.org.br

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog e por esta postagem brilhante! Que pesquisa extraordinária! Parabéns aos Adventistas também, eu não imaginava que eram tão bem organizados. Vejo o bom trabalho deles aqui no bairro, com simpatia e agora ainda mais. Pois, são diferentes, são mais simpáticos e amigavéis do que uma grande parte dos outros evangélicos! Obrigado por mais estas informações! Continuarei vendo os seus posts. Um grande abraço!

Anônimo disse...

O seu Blog está muito Abençoado!


abs!

Anônimo disse...

Mais uma bela história de vitórias do povo de Deus!!!

Um abraço fraternal!!!